De Beverly Hills Catarinense a um possível Vale do Silício
Reportagens como a publicada no último domingo pelo jornal carioca O Globo (Os ‘sem-lancha’da cidade classe A) projetam a imagem de Florianópolis como um dos principais destinos turísticos do país, atraindo pessoas de todo o Brasil, bem como de outros países. Esta visibilidade da cidade como tal tem sido sistemática, mas que muitas vezes apresenta a nossa Ilha como uma cidade rica, sem diferenças sociais, superficial, de abastados esnobes (turistas ou não) que rasgam dinheiro em meio a uma baladinha à beira da piscina de um beach club qualquer.
Quem vive aqui, ou mesmo quem visita Florianópolis, sabe que existem, sim, grandes diferenças sociais, falta de mobilidade urbana, ocupações desordenadas de áreas ambientais, seja por construtoras ou por uma população marginalizada que não encontra opções imobiliárias para se viver na Ilha com dignidade e infraestrutura adequada.
Em contraponto a tudo isso, tenho acompanhado cada vez mais um grande interesse desta mesma mídia que cobre Floripa pelo glamour a conhecer o potencial e o estágio de desenvolvimento tecnológico que encontramos aqui. ? uma economia recente, consolidada, com apenas três décadas de desenvolvimento e que já representa uma das principais economias do município, superando nos últimos anos em arrecadação de impostos, segundo a Prefeitura, segmentos tradicionais como a construção civil e o próprio turismo.
Tem muito a crescer e a melhorar, reconhecidamente, porém é significativa e oferece benefícios ímpares para a cidade. ? uma economia sustentável, pois não polui e não exige grandes investimentos em infraestrutura como o turismo, que por um mês, todos os anos, deixa a cidade intransitável. Atrai pessoas qualificadas não só de todo o Brasil, como cada vez mais de outros países, interessados, sim, pelo setor tecnológico, mas sobretudo por um lugar (ainda) bom de se viver, com qualidade de vida invejável se comparado a outras capitais brasileiras.
? uma economia formal, pois tem como grande característica os negócios entre empresas, organizações, governo, que exigem contratos e prestação de serviços mediante emissão de notas fiscais. ? perene, não sazonal – emprega durante todo o ano e com salários acima da média de outros setores aqui da cidade, inclusive em diversos casos até do funcionalismo público. Há a ressalva de ainda serem menores se comparados com outros centros econômicos, mesmo nosso custo de vida sendo elevado.
O impacto econômico que o setor oferece para a região não é medido somente pelos empregos diretos e recursos que atrai, mas por toda uma economia que gira em torno – de prestadores de serviço como consultorias jurídicas, em gestão de pessoas, marketing, contabilidade, comunicação, até empreendimentos imobiliários, turismo de negócios, vendas de automóveis, restaurantes, entre tantos outros.
Então é este setor que também tem despertado cada vez mais o interesse da mídia em saber como se desenvolveu nestas décadas, de onde surgiu e suas principais características. O primeiro grande marco neste sentido, na minha opinião, foi uma reportagem da revista Exame, de 2007, que mostrou “A reinvenção de Floripa” – de uma cidade sustentada apenas pelo turismo e funcionalismo público à consolidação de um dos principais polos tecnológicos do país.
Depois desta reportagem, a própria mídia local e, principalmente, a opinião pública, passou a ver com novos olhos esta economia, a ponto de governantes a chamarem, até pouco tempo atrás, de uma “indústria silenciosa, mas pujante”. Em seguida, várias outras reportagens deram espaço ao setor, reforçando a imagem para o país de um polo tecnológico de excelência, em franco crescimento. Esta projeção também é cada vez mais internacional. Depois da Newsweek apontar a Florianópolis como uma das dez cidades mais dinâmicas do mundo, tivemos destaque em veículos renomados como a BBC World News e o italiano Corriere della Sera.
Mais recentemente, o setor teve amplo destaque em reportagem sobre Santa Catarina, para o caderno Brazil Confidential, do inglês Financial Times. E somente neste ano, já acompanhei como assessor de imprensa com este foco setorial, entrevistas com repórteres e produtores editoriais de publicações internacionais como New York Times e Herald Tribune, novamente o Financial Times e nos próximos dias com uma renomada revista americana. Na mídia nacional, além da Exame, várias revistas como Exame PME, Pequenas Empresas Grandes Negócios, Você S/A, ?poca Negócios e jornais como Valor Econômico, Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, já destacaram não somente nosso setor, como também cases empresariais de sucesso que o compõem.
Muitos destes veículos ainda ousam, editorialmente, alcunhar Florianópolis como um possível Vale do Silício. Além de não ser uma projeção adequada, já expliquei isso aqui em uma série de posts, o caso do vale americano é ímpar e sem comparativos possíveis com qualquer lugar do Planeta.
Esqueçam a Beverly Hills Catarinense, esqueçam o Vale do Silício tupiniquim, vamos ser Florianópolis, uma cidade, sim, turística e sim, tecnológica. No futuro, quero que sejamos reconhecidos a ponto de passarem a chamar uma cidade com características semelhantes a nossa de uma possível Florianópolis, ou, simplesmente, Floripa.
Rodrigo Lóssio é jornalista, editor executivo do blog TI Santa Catarina e diretor da Dialetto Comunicação Estratégica, especializada no atendimento a empresas e entidades do setor tecnológico catarinense