Florianópolis: Ilha do Silício?
Florianópolis tem um dos principais polos tecnológicos do país, desenvolvido pelo esforço de diversos atores – empreendedores, centros de ensino e pesquisa, incubadoras e instituições empresariais e governamentais. Tal cenário fez inúmeras vezes a mídia e autoridades a citarem a capital catarinense como a Ilha do Silício, em alusão ao mais conhecido polo tecnológico do mundo – o Vale do Silício, no estado americano da Califórnia.
Tive a oportunidade de integrar no início do mês uma missão técnica brasileira aos Estados Unidos, que participou do IASP – World Conference on Science and Technology. Além do evento, o grupo visitou entre outras instituições, o Research Triangle Park, a Stanford University, além de multinacionais do setor de TI como Google e Microsoft. Dá para comparar o desenvolvimento tecnológico que encontramos na bela Ilha de Santa Catarina com o do Vale do Silício? Num primeiro momento, fica claro que temos muito a evoluir, para iniciar uma comparação.
Chega-se a conclusão de que não é somente a tecnologia o grande fator alavancador de empresas nos Estados Unidos, mas sim todo cenário de negócios e investimentos encontrado. A mentalidade de se criar empresas com potencial global desde a sua gestação faz a diferença. O ambiente propício para o capital de risco e um grande apoio dos governos municipais e estaduais contribuem neste cenário.
As empresas do Vale do Silício são responsáveis por toda uma cadeia de desenvolvimento da região, que vai muito além da tecnologia. Há diversos negócios em torno daquele ambiente que fazem o desenvolvimento da região prosperar, como a negociação imobiliária e o próprio turismo tecnológico.
A qualidade de vida nas regiões em torno dos parques tecnológicos visitados é de elevado nível. Precisamos reproduzir isso em Florianópolis e em outras cidades do Estado, que possuem também o turismo como economia propulsora, por conta de nossas belezas naturais, clima atrativo, entre outros fatores.
Situação semelhante pode viver Florianópolis se houver grandes investimentos para o crescimento do setor, alavancando outras economias como a construção civil e o turismo. Além disso, é preciso cada vez mais fortalecer no Estado as Universidades como celeiro de mão-de-obra qualificada e de ponta para o setor. Precisamos tornar a ilha num centro de captação de recursos humanos de toda a América Latina, principalmente de engenheiros e profissionais de computação.
No cenário brasileiro, é preciso mudar também o paradigma no que diz respeito ao relacionamento entre universidade e empresa, pesquisador e empresário. Estas duas instituições precisam estar cada vez mais próximas. Mestres, doutores precisam participar e estarem ativos dentro de empresas, contribuir na inovação dos negócios, na criação de patentes de tecnologias. As universidades precisam integrar joint ventures e serem incentivadas a participar do negócio da tecnologia.
Santa Catarina e o Brasil precisam acompanhar e de fato se posicionarem como players no mercado mundial da tecnologia. Temos que abrir caminho para que conheçam o que aqui desenvolvemos. Com as empresas começando a serem criadas pensando globalmente, o polo tecnológico catarinense passará a seduzir investidores do mundo inteiro. ? preciso despertar o interesse deles para conhecerem nossos negócios e o Estado estar preparado para estar e se manter atrativo.
Ainda no quesito capital de risco, alguns números deixam claro o cenário de negócios nos Estados Unidos. O investimento médio de venture capital em empresas americanas, startups, é de US$ 6,5 milhões, em negócios nascentes. Empresas que faturam anualmente de US$ 10 a 15 milhões conseguem captar, em média, até R$ 50 milhões. No Brasil, a realidade é totalmente diferente – uma empresa de R$ 10 milhões tem dificuldades de captar recursos de até R$ 5 milhões, por exemplo. A Microsoft pagou US$ 240 milhões em 2007, por 1,6% do Facebook, que ainda não tinha um modelo de receita definido, consolidado.
Imagine uma empresa instalada em um dos polos tecnológicos catarinenses recebendo investimento de capital de risco de investidores de outros países, no volume que empresas americanas recebem – entre US$ 10 e 20 milhões. Seria a real possibilidade de empresas hoje líderes do mercado nacional se tornarem líderes mundiais no seus respectivos ramos de atuação. Para isso acontecer, acredito que basta formarmos e garantirmos cases locais com potencial de se tornarem globais. Selecionar algumas dezenas de empresas e, com o apoio de órgãos de fomento, universidades e governos, torná-las de excelência mundial.
Por fim, para um polo tecnológico ser um case de sucesso é preciso unir todos os agentes de desenvolvimento da região, apontando para o mesmo objetivo: o desenvolvimento de uma indústria de tecnologia. Assim, a Ilha do Silício estará logo ali.
Rui Gonçalves é presidente da Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (ACATE)