O laser que cega nossos governantes
Desde que criei o blog TI Santa Catarina, em maio do ano passado, nunca usei o espaço Editorial para tecer algumas opiniões minhas sobre o mercado de tecnologia catarinense. Penso sempre em cumprir o objetivo de valorizar as soluções que aqui desenvolvemos – intenção principal deste ambiente.
Lendo uma reportagem desta quinta no Diário Catarinense feita pelo colega Renato Igor, que acompanha comitiva do governo catarinense pela Europa, me senti na obrigação de trazer esta discussão para cá.
Na matéria, o repórter destaca iniciativa de um grupo italiano que atua no desenvolvimento de equipamentos com tecnologia laser em produzir no Brasil máquinas para a área da saúde. O equipamento da Cutlite do Brasil, que pertence ao Grupo El.En, é aplicado em cirurgias cardíacas, aplicação odontológica, estética e dermatológica.
O atual governador catarinense, Luiz Henrique da Silveira, ex-ministro de C&T do Brasil, tem se destacado em seus sete anos de administração por suas viagens internacionais – muitas delas com o objetivo de atrair investimentos para o Estado. Nobre iniciativa, porém deve ser analisada sob uma outra ótica (a do laser).
Quando o Grupo El.En resolveu se instalar no Brasil, mais especificamente em Blumenau, incentivado pelo governo, publiquei no meu blog pessoal um post que comentava a iniciativa. Santa Catarina tem um dos principais polos nacionais de empresas que atuam no desenvolvimento de equipamentos dotados da tecnologia laser. São empresas como Futurize, Range, Automatisa, Welle Laser, que desenvolvem máquinas de corte e gravação a laser para diversos segmentos de mercado, além de desenvolver projetos de equipamentos e consultorias nesta área, não só para o Brasil, como também para outros países.
Sem conhecer este esforço empreendedor deste pequeno grupo de empresas, o governo catarinense resolve trazer para o Estado, inclusive com incentivos fiscais por meio de mecanismos como o PRODEC, um grupo para simplesmente concorrer com empresas catarinenses não só no mercado de atuação, como também na disputa por profissionais que atuam nesta área, muitos deles formados pelas próprias companhias do Estado. Além disso, incentiva a mera produção de máquinas cuja tecnologia e pesquisa, acredito, foram em grande parte realizadas em terras italianas.
A instalação dos italianos em Blumenau para fabricação de máquinas de corte e gravação é estratégica, afinal, é no Vale do Itajaí que temos um grande polo têxtil, de expressão nacional. Este segmento tem utilizado o laser para corte de etiquetas, marcação em tecidos, dentre outras aplicações – mercado até então dominado por grande parte das nossas empresas.
Pode-se dizer que nossas empresas ainda não atuam com equipamentos laser com aplicações na área da saúde. Mas certamente as catarinenses, já detentoras da tecnologia laser, se beneficiadas por editais públicos de fomento à pesquisa, facilmente poderiam atuar neste mercado, desenvolvendo inteligência local por meio de parcerias com instituições de referência como é a própria Universidade Federal de Santa Catarina.
Outra alternativa seria o incentivo a criação de joint-ventures entre empresas nacionais e grupos internacionais, dotados de recursos para investimentos e interessados no mercado brasileiro. Esta seria uma solução para incentivar a indústria local – especialmente em tecnologias que o Estado ainda não domina e que sejam complementares as desenvolvidas aqui.
Incentivar forasteiras a virem para cá, dando incentivos, é ser desleal com as catarinenses que nasceram, em grande parte, nas nossas incubadoras e de pesquisadores de nossas universidades. Que as condições sejam, no mínimo, iguais às que vem de fora e, de preferência, melhores.
? isso! Basta uma cirurgia a laser nos olhos míopes dos nossos governantes para que percebam que no nosso quintal já temos tecnologia que rende frutos por todo o nosso país e por muitos países das Américas e Europa.
Rodrigo Lóssio
Editor executivo do TI Santa Catarina, entuasiasta da tecnologia catarinense